13 de mai. de 2011

A prevenção da infertilidade em qualquer tempo


(Dos 15 aos 55 anos)


Onde estamos e para onde vamos?
A prevenção das doenças é, atualmente, o capítulo mais importante e honesto da medicina. É o início de qualquer discussão. É a base da saúde. Teoricamente, o médico só deveria tratar as doenças que aparecem (apesar das medidas para a prevenção). A ação preventiva é fundamental no berço das doenças para que elas não cresçam e tornem os tratamentos difíceis e, às vezes, quase impossíveis. E a infertilidade pode ser prevenida? A infertilidade é uma doença? Não no sentido de causar dano à vida, mas sem dúvida pode levar a frustrações irreversíveis e, por isso, talvez seja sensato ser avaliada desde cedo. Mesmo que esse problema não nos aflija diretamente, todos nós temos alguém por perto, amigo, irmão, sobrinha, neta ou filha que pode estar sofrendo dessa dificuldade.


Será que posso engravidar?
Esta é a pergunta que assola a mente das mulheres desde a mais tenra idade, e será que ela pode, mesmo? Temos que esperar até a idade fértil ou até o momento oportuno para saber? Será que não evitaríamos o uso de contraceptivos por tantos anos?
Bem, as respostas para essas perguntas não são tão simples. Sabemos que entre 10 a 15 por cento dos casais têm dificuldades para engravidarem e que o fator masculino pode ser responsável por até 50 por cento desses casos. A pergunta é: Podemos, de alguma forma, prevenir a infertilidade?
A resposta não é fácil, mas, talvez, alguns indícios podem nos dar um alerta das dificuldades futuras que uma ou outra jovem poderá ter para engravidar. Se tivermos atenção, muitos desvios da normalidade podem ser corrigidos precocemente sem que o futuro reprodutivo da paciente seja prejudicado. Eis alguns exemplos As meninas com cólicas menstruais fortes podem ser portadoras de uma doença chamada Endometriose que, descrita numa linguagem simples, é o implante de células endometriais (que revestem o útero internamente) em outro lugar, que não o útero. Por razões desconhecidas e controversas, esse tecido endometrial pode refluir pelas trompas para o interior do abdome e implantar-se em outros órgãos. Esse Endométrio Ectópico (fora do lugar) passa a chamar Endometriose. Quanto antes detectarmos e tratarmos a endometriose, mais chances teremos de evitar casos em estágio severo. A obesidade, hipo e hipertireoidismo, síndrome dos ovários policísticos, diabetes, irregularidades menstruais graves, entre outros, são distúrbios importantes que podem interferir na ovulação e podem ser sanados com tratamento adequado. Manter o peso dentro dos padrões recomendados para estatura e constituição física é sempre um caminho para preservar a "harmonia" no funcionamento do organismo. Evitando maus hábitos como fumo, álcool, drogas e outros (neste caso não estou sequer referindo-me aos terríveis malefícios que esses hábitos causam) estaremos dando um grande passo em direção a esse equilíbrio.


Os múltiplos aspectos emocionais envolvidos na infertilidade feminina

A motivação para a criação deste texto partiu da percepção que temos, por meio da prática clínica, da repetição de histórias muito parecidas vivenciadas por mulheres que se deparam com o diagnóstico de infertilidade.
A infertilidade, para a Medicina, é a dificuldade de engravidar após 12 meses de tentativas, sem uso de nenhum método contraceptivo. No entanto, para as pacientes que vivenciam esse problema, a infertilidade está além desta definição, é mais do que isso. Não conseguir gerar um filho com a pessoa amada e não conseguir dar continuidade à família é por demais frustrante e desmotivante.Além disso, a sociedade estipula uma série de etapas a serem cumpridas pelas pessoas. Quando uma delas não é cumprida, aparecem as cobranças e imposições. Assim é se você não namora, precisa “arranjar” alguém; se já namora, precisa casar; e, se já casou, precisa ter filhos...
A imposição dessa ordem linear de acontecimentos colabora para pressionar ainda mais os casais que tentam engravidar. E, se estes não marcarem o seu espaço frente à demanda do outro, pontuando o que os incomoda, para se protegerem, as angústias podem tornar-se insuportáveis.
Misto de sentimentos
É comum perceber, com toda essa problemática, que as mulheres com dificuldade de gravidez começam a se fechar num mundo muito solitário e frio. Deixam de sair com receio dos comentários alheios, sentem-se inferiorizadas frente às demais mulheres, pouco dividem com seus companheiros sentimentos e pensamentos com medo da rejeição do parceiro e, em alguns casos, abandonam seus empregos para dedicarem-se exclusivamente ao tratamento para engravidar.
Com tantas limitações, a infertilidade acaba estando presente em tudo, uma vez que se configura como “não produzir, não criar”. Se imaginarmos um terreno a ser germinado e colocarmos a infertilidade em apenas uma porção, com o passar do tempo, olhamos novamente este mesmo terreno e percebemos que a porção infértil ocupou uma área maior. Isso não precisa necessariamente ser assim.
Percebemos haver uma tendência das mulheres a levarem a infertilidade para outros espaços de sua vida, uma vez que a situação e os fatores a ela relacionados são frustrantes e angustiantes, gerando, principalmente, sentimentos de impotência.
Para contornar este período difícil da vida é necessário que essas mulheres consigam “adubar” e “preparar a terra” a fim de que outras produções sejam possíveis, expandindo seus horizontes para além da gravidez. O processo psicoterapêutico em muito auxilia essa questão. Algumas pacientes engravidaram justamente no momento em que se viam produtivas no trabalho e maduras em sua vida pessoal.
Para situações delicadas e singulares como o enfretamento da infertilidade conjugal não existem receitas prontas (para alguma dificuldade na vida existe?); mas, certamente, a busca por essa expansão de interesses trará um sentimento de eficiência e de auto-valorização para essas mulheres, enquanto a gravidez não vem.



Menopausa precoce impede a maternidade

Cerca de 1 - 3% das mulheres terão sua menopausa antes dos 40 anos. A falência ovariana precoce responde por cerca de 10% das amenorréias e 1% dos casos de infertilidade.
A menopausa precoce é causada por um motivo conhecido que marca o fim das funções reprodutivas femininas. É o que acontece com mulheres portadoras de câncer - que se submeteram ao tratamento quimioterápico ou radioterápico, terapias que prejudicam a fertilidade feminina - e com as que tiveram que remover cirurgicamente os ovários. "Tanto a menopausa resultante do processo de extração dos ovários, quanto a que resulta de tratamentos de câncer produzem sintomas intensos de calores e suores, bem como secura vaginal e os demais desconfortos que caracterizam a menopausa porque provocam uma queda brusca na produção hormonal", explica o especialista em Reprodução Humana, Joji Ueno.
Quando a menopausa ocorre antes dos 40 anos, sem uma causa aparente, costuma-se identificar o processo como Falência Ovariana Prematura ou FOP. "Os desconfortos da transição hormonal, neste caso, ocorrem gradualmente, como na menopausa natural. Os ciclos menstruais tornam-se irregulares e os demais sintomas e outros distúrbios típicos do desequilíbrio hormonal começam de forma branda e recrudescem, como na fase normal de transição ou perimenopausa", afirma o médico.
A FOP pode ter causas genéticas ou ser conseqüência de doenças auto-imunes como a artrite reumatóide, o lupus e o diabetes. "As doenças auto-imunes levam o organismo a desenvolver anticorpos que, em alguns casos, afetam o sistema reprodutivo e interferem na produção dos hormônios que regulam a ovulação e as demais funções ovarianas", explica Joji Ueno, coordenador do curso de pós-graduação, Especialização em Medicina Reprodutiva, ministrado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
As pesquisas médicas vêm revelando que a idade da menopausa tem a ver com a história familiar da paciente. Isto é, as filhas tenderiam a enfrentar o processo por volta da mesma idade que suas mães, irmãs ou avós. "Este dado pode indicar a probabilidade da menopausa prematura se repetir, quando faz parte do histórico familiar", diz o médico. Outra razão para a menopausa aparecer mais cedo é a ocorrência de infecção de origem viral durante a gravidez, fato que pode afetar o desenvolvimento dos ovários do feto e levar a menina a nascer com menos óvulos do que o normal e a esgotar seus estoques antes da época naturalmente prevista para a maioria das mulheres.
Defeitos no cromossomo X também podem interferir na produção dos óvulos e antecipar a menopausa em seis ou oito anos. Outros tipos de defeitos cromossômicos podem levar a mulher a menopausa antes dos 20 ou 30 anos. "Existem casos de problemas genéticos como a Síndrome de Turner em que a mulher nem chega a desenvolver os ovários e a menstruar", explica Joji Ueno.


Diagnóstico e tratamento
A determinação da causa da menopausa prematura é importante para as mulheres que desejam engravidar. O exame físico é útil, seguidos por exames complementares, como o de dosagem hormonal e o ultra-som ovariano. Exames de sangue podem ser realizados para se investigar a presença de anticorpos que acarretam danos às glândulas endócrinas - exemplo de doenças auto-imunes. Para as mulheres com menos de 30 anos de idade, uma análise dos cromossomos é geralmente realizada.
Confirmado o diagnóstico, a regra para tratamento é a Terapia de Reposição Hormonal, a TRH. "O uso da TRH é imprescindível nos casos de menopausa de origem cirúrgica ou provocada por quimioterapia, em virtude da intensidade destes sintomas", afirma Joji Ueno. Além disto, a menopausa precoce é indicação precisa de Terapia de Reposição Hormonal, pois essas mulheres apresentam risco 4 x maior de desenvolver doenças cardíacas e 7 x maior de desenvolver osteoporose.


Chances de engravidar
A mulher com menopausa prematura apresenta uma chance inferior a 10% de ser capaz de conceber. Suas chances aumentam em até 50% quando é realizada a implantação de óvulos de uma outra mulher no seu útero - a ovodoação - após eles serem fertilizados em laboratório, com emprego das técnicas de Fertilização In Vitro, FIV.
Antes da implantação, são produzidos ciclos menstruais artificiais na doadora e na receptora através da administração de estrogênio e de progesterona para preparar o endométrio e aumentar as chances de uma gestação bem-sucedida.
Para ser doadora de óvulos, a mulher precisa preencher alguns requisitos básicos. Segundo a Sociedade Americana de Reprodução Assistida, a idade deverá estar compreendida entre 21-34 anos, deve possuir um bom estado psicofísico, histórico negativo para doença de transmissão genética, testes negativos para HIV, sífilis, hepatite B e C e cultura cervical negativa para Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis.
Nos Estados Unidos, a doação de gametas pode ter caráter comercial, de modo que a mulher que necessite de ovodoação pode escolher a doadora e remunerá-la pelo procedimento. "No Brasil, o Conselho Federal de Medicina, em resolução de 1992, determina que a doação de óvulos não pode ter caráter lucrativo - assim como a doação de leite materno, sangue, órgãos e tecidos - e deve ser preservado o anonimato da doadora", explica Joji Ueno.


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