20 de abr. de 2012

Entendendo Melhor a Endometriose


Definição

Endometriose é uma doença caracterizada pela presença de endométrio fora do útero. O endométrio é a camada que reveste internamente a cavidade uterina e é renovado mensalmente por meio da descamação durante o fluxo menstrual. Em algumas situações este tecido volta pelas trompas, alcança a cavidade pélvica e abdominal, gerando a endometriose. Pode acometer também, os ovários, as tubas e outros órgãos como o intestino e a bexiga. As células do endométrio, na pelve, vão funcionar de forma semelhante as que estão revestindo o útero, isso quer dizer que elas vão "menstruar" também e, é essa menstruação no lugar errado que é responsável por grande parte dos sintomas da doença.
Causas
As causas da endometriose, apesar dos inúmeros estudos, ainda são pouco conhecidas, podemos dividir as explicações em duas categorias que vamos chamar de primeiras teorias e aspectos atuais.
Primeiras Teorias
As primeiras explicações sobre o porquê do aparecimento da endometriose foram dadas por dois médicos, Cullen e Meyer, que no final do século XIX propuseram que as células do peritônio ( membrana que reveste a pelve e a maioria dos órgãos) poderiam sofrer uma transformação em células endometriais. Esta teoria jamais foi comprovada, porém, foi utilizada para explicar o aparecimento da doença em mulheres que não menstruavam.



Em 1925 surgiu a primeira teoria que foi cientificamente provada. Coube a Sampsom descrever o fenômeno da menstruação retrógrada. Este autor observou que, durante a menstruação, células do endométrio 9 camada que reveste a cavidade do útero) voltavam através das tubas e caiam dentro da pelve. A partir daí Sampsom propôs que a causa da endometriose seria o refluxo do tecido endometrial através das tubas durante o fluxo menstrual. Esta teoria foi usada durante quase a totalidade do século passado para explicar a doença. Entretanto, na década de 80 do século passado, descobriu-se que 90% de todas as mulheres têm menstruação retrógrada, e obviamente a endometriose não acomete 90% das mulheres.Este dado fez com que o refluxo de células endometriais durante a menstruação não mais bastasse para explicar a gênese da doença. A pergunta que surgiu foi o porquê de algumas mulheres com menstruação retrógrada desenvolverem a doença e outras, não!?Surgiram então as teorias atuais.
Teorias atuais
Uma das possíveis explicações é conhecida como teoria imunológica. As células que voltam através das tubas e caem na pelve deveriam ser reconhecidas pelo sistema imunológico como não própria àquela local, depois desta identificação este mesmo sistema teria o dever de destruir estas células. Talvez em mulheres que desenvolvem a doença alguma falha nos mecanismos de defesa possa acontecer e permitir que as células regurgitadas se implantem e dêem início a doença.
Outra hipótese é a que diz que o endométrio tópico, aquele que reveste o útero, possuiria algumas alterações que facilitariam que estas células, ao atingir a cavidade pélvica virem endometriose. Inúmeras alterações já foram encontradas quando comparamos o endométrio de mulheres com endometriose com o das sem a doença.
Em um futuro próximo provavelmente as duas teorias vão se juntar e explicar de forma conjunta o porquê do aparecimento da endometriose em apenas uma parcela das mulheres com menstruação retrógrada.
Ai surge a pergunta: o que acontece com estas mulheres que de repente desenvolvem uma alteração imunológica e outra na camada que reveste o útero?
Alguns trabalhos têm investigado o papel de alguns poluentes ambientais, principalmente um conhecido como dioxina, na gênese da endometriose. A dioxina é um poluente universal derivado da combustão de plásticos, borrachas, fabricação de produtos químicos e solventes dentre outras fontes.Diversos estudos mostraram que a exposição a este poluente pode levar a alterações no sistema imunológico e também no endométrio. Seria a dioxina responsável por todas as alterações que levam a endometriose. Ai vem a mesma pergunta que fizemos acima com relação a menstruação retrógrada: se todas as mulheres estão expostas a este poluente, por que só algumas desenvolvem a endometriose?!
Mais uma alteração entra em jogo para tentar explicar este fenômeno. A de que alterações genéticas, chamadas de polimorfismos, fariam com que a dioxina não fosse corretamente eliminada do corpo e como conseqüência ela começaria a atuar, levando aos distúrbios já mencionados. Apesar dos inúmeros estudos realizados na última década a causa da endometriose ainda permanece obscura. Quanto mais peças deste enorme quebra-cabeças forem juntadas e conhecermos melhor o porquê da doença seremos capazes de diagnosticar e tratar de forma mais adequada as mulheres com a doença.
Tipos
endometriose pode se apresentar de algumas formas distintas:
Endometriose profunda:
É uma forma avançada da doença. Acomete ligamentos ou outros órgãos. Não é infrequente o acometimento intestinal. É de difícil tratamento. A resposta ao tratamento medicamentoso não é tão boa quanto a das formas superficiais. A cirurgia, geralmente, é de grande porte, na qual ressecção de parte do intestino ou da bexiga pode ser necessária.

Ovariana: É o chamado endometrioma de ovário. As células endometriais quando voltam através das tubas conseguem se alojar dentro de um pequeno cisto no ovário. A partir daí elas começam a se dividir e “atapetam” todo o cisto. Ao final de cada ciclo menstrual estas células menstruam para dentro deste cisto e com o passar do tempo vão preenchendo-o de sangue. Devido a isto o endometrioma de ovário cresce vagarosamente e pode atingir tamanhos surpreendentes. O problema desta forma de endometriose é que, com o crescimento parte do ovário sadio vai sendo destruída, o que pode comprometer a fertilidade futura! O tratamento é, na maioria das vezes, cirúrgico e o cisto deve ser removido ou cauterizado. Em casos onde o tamanho é muito grande, todo ovário já foi comprometido e ai impõe-se a remoção do ovário (ooforectomia).

Septo reto-vaginal: É extremamente rara, acomete o tecido que fica entre o reto e a vagina. Sua origem ainda é controversa, entretanto, acredita-se que pode derivar da transformação de algum resquício da formação dos órgãos genitais em células endometriais. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico.

Peritoneal: É de longe a forma mais comum da doença! Acomete o peritônio, a membrana que recobre toda a pelve e os órgãos pélvicos e abdominais. Pode ser superficial ou profunda, chamamos de profunda quando invade a superfície peritoneal por mais de 5mm. A profunda, também conhecida como infiltrativa é encontrada, com freqüência, na parte final do intestino grosso (reto e sigmóide) e parede da bexiga. Cerca de 20-30% das mulheres com endometriose vão apresentar a forma profunda. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico.

Endometriose de parede: Esta forma da doença aparece após uma cirurgia uterina, seja uma cesárea, histerectomia ou miomectomia. Durante a cirurgia, células do endométrio acabam ficando na cicatriz cirúrgica e ali proliferam e formam um nódulo de endometriose. O quadro clínico consiste em um nódulo abaixo de uma cicatriz cirúrgica que dói e aumenta durante o fluxo menstrual! O tratamento é sempre cirúrgico e consiste na remoção do nódulo. De forma contrária ao que fazemos nos outros tipos de endometriose esta não precisa de complementação medicamentosa após a cirurgia e tampouco da prevenção da recidiva. 

Endometriose pulmonar ou pleural: É extremamente rara. Ainda não sabemos com as células endometriais vão parar tão longe! Talvez elas entrem em um vaso sanguíneo ou linfático e cheguem aos pulmões. A mulher com endometriose pulmonar pode se queixar de tosse com sangue durante o fluxo menstrual.
Sintomas
Cólica menstrual (Dismenorréia)O principal sintoma é sem dúvida a cólica menstrual. Sempre que a mulher tiver cólicas de difícil tratamento com as medicações convencionais deve-se suspeitar de endometriose. Uma das principais causas da demora no diagnóstico da doença é a não valorização adequada da cólica menstrual. Não é infrequente vermos pacientes referindo que cólicas são normais, que “depois que casar passa” ou que a adolescente esta exagerando nos sintomas por problemas emocionais. Se a cólica já existe há algum tempo, os analgésicos e antiinflamatórios já não aliviam muito, às vezes precisa ficar de cama durante a menstruação: converse com seu ginecologista sobre endometriose.Por que as mulheres com endometriose têm cólicas? Os implantes da doença localizados no peritônio funcionam de forma semelhante ao endométrio normalmente localizado. Ou seja, responde aos estímulos hormonais e, portanto, “menstrua” no final do ciclo menstrual. Esta menstruação no local errado leva a dor principalmente devido à secreção de uma substância denominada prostaglândina. A prostaglândina irrita os receptores para a dor presentes no peritônio, e como isso acontece concomitante ao fluxo menstrual a paciente refere cólica durante o fluxo menstrual.
Dor durante a relação sexual (Dispareunia)Aproximadamente 30% das mulheres com endometriose vão referir dor durante o ato sexual. Geralmente a queixa inicial é apenas um incomodo e, com o passar do tempo começa a ser de dor. Esta dor é progressiva e, em estágios avançados torna impossível a relação sexual, levando a inúmeros problemas conjugais.
Por que mulheres com endometriose têm dor á relação sexual?
O local mais freqüente onde encontramos a endometriose é no ligamento útero-sacro. Este ligamento fica atrás do útero, em íntimo contato com a vagina. O implante, com a secreção de inúmeras substâncias, principalmente as prostaglândinas levam à um processo inflamatório. Todo vez que mexemos em um local onde há inflamação temos dor. É por isso que mulheres com endometriose podem ter dor à relação sexual.InfertilidadeCerca de 40% das mulheres com infertilidade tem endometriose. E muitas com endometriose vão ter alguma dificuldade na hora de engravidar.
Por que mulheres com endometriose têm dificuldade para engravidar?
Existem diversos estágios da doença, que podemos sintetizar em: endometriose leve ou endometriose avançada. Quando a mulher tem endometriose avançada a explicação do porquê da infertilidade é fácil. Neste estágio há inúmeras aderências na pelve. O útero gruda no intestino, as tubas grudam nos ovários e assim por diante. Esta alteração na anatomia da pelve dificulta muito que o óvulo encontre o espermatozóide e, portanto a mulher não consegue engravidar.
Já quando a endometriose é leve a explicação não é tão fácil. Provavelmente o ambiente peritoneal bastante inflamado altera a motilidade tubária, a postura ovular, pode também, alterar os espermatozóides e o óvulo. De qualquer forma sabemos que há uma relação importante entre infertilidade e endometriose, porém se tratada no início a doença não vai prejudicar uma futura gestação natural.Cisto de ovário (Endometrioma)Algumas mulheres descobrem que tem endometriose só quando aparece um cisto de ovário em uma ultra-sonografia de rotina. Este cisto, denominado de endometrioma se forma devido ao implante de endometriose dentro do ovário. Este implante começa a se dividir e “menstruar” ao final de cada ciclo, formando um cisto. O endometrioma pode, com o passar do tempo, crescer e danificar o restante do ovário sadio, por isso sempre que houver suspeita de crescimento ele deve ser removido cirurgicamente, visando preservar a maior quantidade possível de ovário sadio, não prejudicando assim, uma futura gestação.Outros sintomas
  • Alterações menstruais: ao contrário do que muita gente pensa a endometriose não causa alterações no ciclo menstrual. A mulher pode ter a doença e menstruar normalmente, com exceção é claro a presença de cólicas!
  • Sintomas intestinais: a mulher com endometriose pode apresentar aumento do hábito intestinal durante a menstruação. Isto se deve a secreção de prostaglândinas pelos implantes. A prostaglândina estimula a contração do intestino, fazendo com que a mulher vá ao banheiro um número maior de vezes durante o fluxo menstrual. Já, quando a doença é avançada, e o intestino grosso é acometido os sintomas se tornam mais exuberantes. Sangramento ao evacuar, sensação de querer ir ao banheiro toda hora e dificuldade para evacuar são sinais de que a doença já avançou.
  • Sintomas urinários: a endometriose pode se implantar na parede da bexiga e, devido à inflamação irritar a bexiga. Esta irritação faz com que a mulher tenha dor ao urinar, vá ao banheiro diversas vezes ao dia e tenha dificuldade de segurar a urina quando a bexiga esta cheia. Apesar de pouco freqüente fique atenta as alterações urinária.
Diagnóstico
Em qualquer livro ou texto que fale sobre endometriose você vai ler que o diagnóstico é anato-patológico, ou seja, há necessidade de uma cirurgia, biópsia e estudo do tecido retirado por um patologista. Hoje em dia, só com a história e o exame ginecológico já podemos saber, com alto índice de acerto, se a mulher tem ou não endometriose.
Mulheres jovens, com queixa de cólicas menstruais progressivas, em alguns casos dor à relação sexual, provavelmente têm endometriose. E, portanto, já estamos aptos a iniciarmos o tratamento!
Cólicas que não melhoram com as medicações antiespasmódicas, antiinflamatórias ou com pílula anticoncepcional, não são normais!!!!!!
Existe algum exame, de sangue ou de imagem, que pode ajudar no diagnóstico?
Você provavelmente já ouviu, ou vai ouvir falar de um exame de sangue chamado CA-125! Ele foi usado durante muito tempo no auxílio do diagnóstico de endometriose, entretanto, sua sensibilidade é baixa. Isso quer dizer que poucas mulheres com endometriose têm aumento do CA-125! Na maioria das mulheres com endometriose (60%) o exame pode estar normal! Talvez ele mais atrapalhe do que ajude! Se o médico esta frente a uma mulher na qual a suspeita é de endometriose e o CA-125 estiver normal ele talvez fique receoso ou não confie no seu raciocínio clínico e ai não vai intervir! Isso faz com que a paciente vá embora sem diagnóstico! Talvez este exame seja um dos culpados pela demora no diagnóstico e tratamento da doença.
Exames de imagem, ultra-sonografia, tomografia ou ressonância magnética não servem para o diagnóstico da doença. Eles são úteis em alguns casos para programarmos melhor o tratamento.
Tratamento
Quando falamos no tratamento da endometriose algumas coisas precisam ser estabelecidas. 

Em primeiro lugar e o mais importante é saber se vamos tratar uma paciente que quer engravidar (infertilidade) ou uma mulher que quer se livrar da dor. Outra coisa que deve ser estabelecida é o local e a forma da doença. Se a doença está no ovário, septo reto-vaginal, intestino, bexiga e se estiver no peritônio se é superficial ou profunda.
 



Conheça os tratamentos para a Endometriose em:
Tratamento para Infertilidade
Tratamento para Dor Pélvica
Tratamento Cirúrgico
Tratamento para Infertilidade


Quando a principal queixa é a infertilidade temos que mudar um pouco o raciocínio. Diversos outros fatores devem ser considerados antes da proposta terapêutica. Idade da mulher, qualidade do sêmen do marido, tempo de infertilidade, presença ou não de obstrução tubária e o grau da doença. O tratamento pode ser cirúrgico ou por meio das técnicas de reprodução assistida. Ainda há controvérsias entre os médicos sobre a melhor forma de tratar estas mulheres. Alguns acham que elas devem ser operadas antes de se submeterem a procedimentos de reprodução assistida, já outros acreditam que a cirurgia não é necessária. Nestes casos o principal é usar o bom senso. Explicar à paciente todas as possibilidades de tratamento e, junto com ela traçar um plano para conseguir a gravidez.
Tratamento para Dor Pélvica
O tratamento da endometriose em mulheres com queixa de dor pélvica pode ser clínico ou cirúrgico. Inicialmente, antes de indicar a laparoscopia, a tentativa de tratamento clínico é valida. Dispomos de algumas medicações para este fim, todas são usadas com a mesma finalidade, ou seja, fazer com que tenhamos um ambiente de hipoestrogenismo. Sabemos que o estrogênio é importante para a sobrevivência das células endometriais. Na ausência deste hormônio o endométrio fica inativo e posteriormente atrófico. Buscamos com o hipoestrogenismo o mesmo efeito nos implantes de endometriose.
Drogas:
Pílula anticoncepcional: 
A pílula foi o primeiro tratamento clínico usado para mulheres com endometriose. Era o chamado estado de pseudo-gravidez. Usavam-se altas doses de anticoncepcional visando a atrofia dos implantes. Hoje, não utilizamos mais altas doses, mas sim, a dose usual utilizada para contracepção. Existem inúmeras disponíveis no mercado, a mais utilizada é a chamada combinada, ou seja, contem estrogênio e progesterona. O anticoncepcional pode ser de média ou baixa dosagem, dependendo de cada paciente. O uso deve ser contínuo, ou seja, emenda-se uma cartela na outra, fazendo com que a paciente deixe de menstruar. Seu uso é restrito a casos de endometriose leve e o uso deve ser constante até que haja desejo de gestação.

Progesterona : 
Também foi um dos primeiros tratamentos para endometriose. O uso constante deste hormônio leva á atrofia dos implantes. Pode-se usar via oral ou a injetável trimestral. Dentre os principais efeitos colaterais destacam-se o ganho de peso e a depressão. Da mesma forma que a pílula seu uso é constante até o desejo de gestação.

Danazol: 
Esta medicação já não é mais utilizada de forma rotineira. Foi muito usada no século passado e seu efeito na melhora da dor era importante. Entretanto, por ser derivado da testosterona os efeitos colaterais eram desagradáveis. Aumento de pilificação, alteração de voz, diminuição das mamas, aumento de gordura na região abdominal e queda de cabelo. Hoje utilizamos em casos selecionados e sempre, em baixas doses.

Gestrinona: 
Da mesma forma que o danazol, a gestrinona só é utilizada em situações especiais.

DIU
Dispositivo intra-uterino liberador de progesterona (DIU). Este dispositivo é colocado dentro do útero e libera gradualmente a progesterona. Este hormônio leva à atrofia do endométrio, ele literalmente “seca” o efeito é semelhante nos implantes de endometriose. Depois de colocado continua ativo por cinco anos. O DIU habitual, aquele antigo de cobre, não deve ser utilizado em mulheres com endometriose.

Análogos do GnRH: 
Esta medicação, formulada nos anos 80 do século passado, é, sem dúvida a mais utilizada nos dias de hoje para o tratamento da endometriose. Os análogos atuam sobre a hipófise, bloqueando a ação do GnRH. Sem a ação do GnRH a hipófise deixa de produzir os hormônios LH e FSH, necessários para que os ovários produzam estrogênio. Com esta medicação os ovários deixam de funcionar e a mulher passa a viver em um estado de hipoestrogenismo absoluto, como se estivesse na pós menopausa! Além da ação sobre a hipófise os análogos do GnRH também tem ação direta sobre os implantes de endometriose, fazendo com que eles atrofiem! Como com qualquer droga temos um preço a pagar pelos benefícios do análogo. Os efeitos colaterais! Com esta medicação a paciente vai experimentar a pós-menopausa. Fogachos, alterações emocionais, ressecamento vaginal, alterações no colesterol e principalmente diminuição da massa óssea! Entretanto, conhecendo melhor a resposta dos diversos órgãos do corpo a este hormônio podemos utilizar uma medicação com ação estrogênica para diminuir os efeitos colaterais e impedir a perda de massa óssea. É a chamada terapia de adição hormonal. Após um mês do uso do análogo prescrevemos estrogênios e este é administrado após 30 dias da última aplicação! Pode parecer um contra-senso dar estrogênio se o que queremos e deixar a mulher sem o hormônio! Os tecidos do corpo respondem a doses diferentes de estrógeno por isso, podemos receitar um pouco de hormônio sem prejudicar o tratamento da endometriose.
Existem diversos tipos de análogos do GnRH. Pode ser administrado via nasal (spray), intra-muscular ou subcutâneo. A aplicação pode ser diária, caso do spray nasal, mensal ou trimestral quando utilizamos a via intra-muscular ou subcutânea.
A medicação não deve ser utilizada por mais de seis meses, já que os efeitos colaterais são importantes. A secretaria de saúde fornece a medicação em casos de doença comprovada1 (laudo de biópsia)

Inibidores da aromatase: 
Esta é a mais nova droga usada para o tratamento da endometriose. As células de endométrio e de endometriose possuem a capacidade de fabricar seu próprio estrogênio! Elas possuem uma enzima chamada aromatase. Esta enzima transforma outros hormônios, fabricados pela glândula supra-renal, em estrogênio! Então, em alguns casos mesmo com o bloqueio da produção de estrogênios pelos ovários a endometriose consegue sobreviver! Os inibidores da aromatase bloqueiam esta enzima! Vem sendo utilizada em conjunto com o análogo do GnRH e parece que os resultados são promissores! A droga é usada via oral e usada por seis meses.
Novidades:
Nosso serviço, na UNIFESP, em conjunto com a Universidade Federal do Maranhão avaliou o efeito da unha-de-gato na endometriose em ratas. O resultado foi animador! Já estamos utilizando a medicação em mulheres com a doença e os resultados são surpreendentes!
Estamos trabalhando também com terapia gênica. Colocamos alguns genes dentro de vetores e observamos, em cultura de células, que isso pode ajudar a tratar a doença. Mas, isso é conversa para o futuro!

O tratamento clínico pode ser utilizado previamente à indicação da laparoscopia, exceto quando estamos frente a um endometrioma de ovário. Neste caso a cirurgia deve ser indicada, pois, as medicações não são eficazes para esta manifestação da doença! 
Em todos os outros casos podemos evitar a cirurgia com alguma das drogas mencionadas acima. A cirurgia é reservada para aquelas mulheres que não tem alívio da dor após seis meses de tratamento medicamentoso.
Tratamento Cirúrgico
O tratamento cirúrgico é reservado para aquelas pacientes que não tiveram sucesso após seis meses de medicação ou para aquelas que têm o endometrioma de ovário.
A melhor forma de tratar cirurgicamente é por meio da laparoscopia! Esta cirurgia é feita através de três ou quatro incisões na pele. Cada uma medindo de 5 mm a 1 cm. Através destas incisões introduzimos a ótica, que vai permitir a visualização de toda a pelve e abdômen. Pelos outros orifícios introduzimos pinças e outros acessórios necessários para o tratamento da endometriose. O tratamento cirúrgico baseia-se na retirada de toda a doença. Todos os implantes de endometriose devem ser removidos! Além disto, a anatomia da pelve deve ser restabelecida. As eventuais aderências devem ser desfeitas.
Em casos de doença avançada pode ser necessária a retirada de uma parte de algum órgão! Isso acontece com mais freqüência na bexiga ou no intestino. Quando isso acontece a cirurgia se torna mais complicada e estamos sujeitos a algumas complicações importantes.
Procure, sempre antes da cirurgia esclarecer todas suas dúvidas com o médico. 
Após a cirurgia, nos casos de endometriose avançada, usamos os análogos do GnRH por três a seis meses, visando a eliminação de eventuais implantes microscópicos não identificados na laparoscopia. 


Em casos onde a endometriose já recidivou várias vezes, a mulher já teve seus filhos e, portanto, não tem desejo de uma gestação futura e a doença atrapalha de forma importante a qualidade de vida podemos pensar em uma cirúrgia radical. A cirurgia radical consiste na retirada do útero (histerectomia) e dos ovários (ooforectomia bilateral)! É uma medida drástica mas, em alguns casos é a única forma de melhorarmos a qualidade de vida da mulher e devolvê-la à vida normal.
Laparoscopia
Videolaparoscopia ou laparoscopia é uma cirurgia minimamente invasiva usada para dois objetivos: diagnóstico e tratamento. É a melhor forma de tratar a endometriose e diversas outras doenças ginecológicas, como cistos de ovário, miomas dentre outras. Nessa cirurgia, após anestesia geral são realizadas pequenos cortes, geralmente um na região do umbigo de 1 cm e dois ou três outros logo acima da linha dos pelos pubianos, onde se insere uma ótica e outros instrumentos cirúrgicos. Com a ótica podemos visualizar toda a pelve e abdômen, permitindo o diagnóstico de qualquer alteração. Através da inserção de instrumentos pelas outras incisões podemos operar e tratar a maioria das doenças ginecológicas.
Existem diversas vantagens quando comparamos a laparoscopia com a cirurgia tradicional. O tempo de hospitalização é de aproximadamente 24 horas, muito menor do que nas cirurgias tradicionais, e o retorno da paciente para as suas atividades rotineiras também é muito mais precoce. Apesar dos inúmeros benefícios quando comparamos a laparoscopia com a cirurgia tradicional a presença de dor leve a moderada é muito comum, portanto, deve-se tomar alguns cuidados principalmente na primeira semana após a cirurgia. A Fisioterapia pode ajudar neste período de recuperação.
Dúvidas Frequentes
Endometriose tem Cura?

Em alguns casos sim! Quando a doença é inicial, temos poucos implantes na pelve e todos são superficiais, a doença pode ser curada! Por este motivo devemos sempre pensar no diagnóstico precoce! Quando mais cedo mais fácil obter a cura! Em casos onde a doença é avançada, as chances de cura são menores, porém, podemos controlá-la e manter a mulher livre dos sintomas.
Existe alguma forma de me prevenir?

Não existe, até o momento, uma forma eficaz de prevenir a doença. A melhor coisa a fazer é ficar atenta aos sintomas. Se começar a ter cólicas menstruais ou dor à relação sexual, converse sobre endometriose com seu ginecologista.


Gravidez cura Endometriose?

Em alguns casos sim! Antigamente acreditava-se que o melhor tratamento para a doença era a gestação, hoje sabemos que a gravidez pode, em casos iniciais, curar a doença e, em casos de doença avançada, melhorar os sintomas. Na verdade o comportamento da doença após a gestação é imprevisível, algumas melhoram, outras ficam curadas e outras ficam do mesmo jeito!


Posso ter filhos?

Sim, você vai poder ter filhos! A endometriose pode levar a infertilidade, porém, hoje em dia dispomos de inúmeras técnicas de reprodução assistida que podem ajudar a portadora da doença a engravidar. Outros fatores, principalmente a idade, devem ser levados em consideração, mas a chance de conseguir um bebê é grande!


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