25 de mai. de 2011

Impacto da Infertilidade

                                     
Cada vez tem sido mais frequente a necessidade de se recorrer à ajuda médica para conceber um filho. As causas variam desde problemas relacionados ao aparelho reprodutor masculino, feminino, ou envolvendo ambos, como também a fatores sócio culturais: idade avançada das mulheres, estresse, obesidade, entre outros.


No passado, quando a concepção não ocorria de forma natural, recorria-se a adoção, e isto era habitual. Hoje, com os recursos cada vez maiores da medicina, os casais buscam respostas e tentam entender o que acontece com o seu próprio corpo. A adoção ainda é uma chance para a maternidade mas, para muitos casais, só depois de esgotadas todas as outras possibilidades.Deparar-se com a impossibilidade de gerar um filho abala profundamente homens e mulheres, ainda que não na mesma proporção. 


São elas que sentem na própria pele as dores deste processo e são submetidas, com maior frequência, a exames e ao estresse do tratamento em si. Nos últimos anos tem-se tido o cuidado em tratar o “casal infértil”, tirando da mulher a culpa e responsabilidade.Devido ao desenvolvimento da Reprodução Assistida criou-se uma ideia de que tudo é possível nesta área. A mídia tem noticiado com certa frequência a possibilidade de se conceber em qualquer idade, porém esta é uma realidade parcial porque omite a dificuldade da gravidez após os 35 anos, deixando de elucidar o quanto o caminho para o tratamento da infertilidade é longo e tortuoso. Esta idealização só faz aumentar as expectativas e quando não se obtém o resultado esperado a frustração é muito grande.Após um ano de tentativas estima-se que 25% dos casais não conseguirão a gravidez naturalmente e, assim, necessitarão investigar junto a um especialista em reprodução humana o que pode estar ocorrendo. 


Diante disto a primeira reação é de surpresa e susto, pois a certeza acerca da gravidez começa a ser abalada. Inicia-se todo um processo de muita angústia, dor, dúvidas e sofrimento.Este primeiro momento de investigação tem suas particularidades: fica-se diante do desconhecido, não se sabe ainda o que está ocorrendo e nem aonde se pode chegar. O não saber favorece o surgimento de inúmeras fantasias, que geram questionamentos individuais, sentimentos de punição, busca por explicação.Cada sujeito tenta encontrar suas próprias respostas frente a este vazio. Além dos questionamentos e fantasias intensos, o corpo todo está sendo investigado com exames constrangedores e doloridos. Diante de tantas interferências, o tratamento começa a invadir, principalmente, a vida da mulher, dominando a sua mente. 


É importante conseguir ver a vida com alguma perspectiva para não se esquecer dos outros papéis que desempenha.A busca pelo diagnóstico pode ser lenta e trabalhosa: passa-se de exames simples até pequenos processos cirúrgicos, tentando encontrar alguma explicação. Existe ainda uma parcela de casos chamados infertilidade sem causa aparente (ISCA), em que nenhum diagnóstico pôde ser alcançado.Um dos pontos mais importantes no estudo da esterilidade é o fato de poderem coexistir fatores fisiológicos e psicológicos: “Nem a ausência aparente de causa, ou o seu desconhecimento, indicam por si a presença do fator psíquico, nem a presença de qualquer fator fisiológico descarta concomitante o fator psíquico” (Serafini,1998).


Ao chegar a um diagnóstico, a infertilidade é então sentida como uma dificuldade real e esta é uma das mais difíceis experiências da vida de um casal. Envolve um abalo no aspecto subjetivo – o desejo e a dificuldade de ter filhos e constituir uma família – e, também, no aspecto relacional, ou seja, lidar com a expectativa da família e amigos quanto à gravidez daquele casal. “A infertilidade cria nos casais a sensação de estarem sendo tratados pela vida de maneira cruel, de não estarem sendo abençoados”. O diagnóstico desencadeia sentimentos negativos, principalmente culpa e vergonha. 


Neste momento a mente está em intensa turbulência, sendo invadida por questionamentos e sentimentos de punição: porque comigo? O que tenho de errado? Será que nasci para ser mãe? Estou sendo castigada por alguma coisa? Este período pode ser propício ao surgimento de aspectos mais depressivos. O casal sofre com tudo isso, ocorrendo uma diminuição da libido, muitas vezes um desinteresse pelas questões profissionais, e também certo isolamento social. Como o desejo de engravidar é intenso e não pode ser deixado para um segundo plano, faz-se necessário voltar para esta situação criando recursos para enfrentá-la. A dor gerada pela infertilidade impulsiona o sujeito a ter que lidar com o subjetivo, com questões muito íntimas que envolvem a história pessoal, relações familiares, vinculação do casal e a própria personalidade.É um momento particular e a elaboração desta etapa depende de pessoa para pessoa. 


A psicoterapia pode ser um instrumento interessante, contribuindo neste desenvolvimento pessoal.A psicoterapia, em muitos casos, torna-se necessária, contribuindo para o enfrentamento de sentimentos que permeiam e fragilizam o momento, colaborando para o fortalecimento interno, ajudando a redefinir objetivos e planos de ações. Assim ocorre também na elaboração do luto do filho que não veio ou que foi perdido nos consecutivos abortos.
O psicoterapeuta também contribui na vinculação médico-paciente, que pode estar prejudicada pela frustração do casal com as tentativas fracassadas, possibilitando a formação da tríade paciência, persistência e insistência, no decorrer dos tratamentos.O Psicólogo ainda pode colaborar utilizando recursos como palestras informativas que, mesmo sendo mais abrangentes, podem se tornar uma ferramenta de trabalho para conscientizar o paciente da necessidade do enfrentamento de seus sentimentos. 


A infertilidade é uma situação na qual as pessoas passam a conviver com sentimentos difíceis de lidar como inveja, raiva e rejeição, o que se torna assustador para quem já está tão abalado.As clínicas especializadas em Reprodução têm percebido a importância de profissionais da Psicologia para dividir e enriquecer este trabalho. Hoje o psicólogo entra como um parceiro e colaborador do processo, não sendo mais visto como alguém que vem apontar mais dificuldades. A questão primordial não é detectar se a infertilidade tem a ver com bloqueios psicológicos, mas sim de colaborar e ajudar o paciente neste caminho, contribuindo para que este crie mais recursos psíquicos para lidar com as limitações e desafios que a vida impõe.

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